sábado, 27 de setembro de 2008

Esvoaçar

Nascendo, crescendo, vivendo, reproduzindo, envelhecendo, e morrendo. Numa estimativa de 85 anos, porque não arranjámos ainda uma maneira de criar, um humano com asas? Que esvoaçasse entre os 10 e os 18, e voasse de vez a partir daí, até aos 70, ou até a idade em que as penas, e a força se mantivessem. Que os ninhos fossem quentes, e sempre confortáveis. Que os membros da família se fossem quando menos bem - vindos. Que os filhos adolescentes fossem e só voltassem quando tivessem força nas asas. Que quando fosse preciso voar para mais longe, fosse mais fácil de aceitar para os outros.
Como será sentir asas nas omoplatas?
Abri-las, esticá-las como quem espreguiça.
Ver o que nos rodeia, sentir o vento, e saltar olhando sempre em frente.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

s/ titulo

Presa a uma razão maior, que não me larga nem a mim, nem a nenhum ser vivo habitante neste (por vezes) triste e lamentável mundo.
Foi lamentável, tristemente agoniante ter de largar a floresta com luz própria, com animaizinhos contentes aos pulos, com joaninhas a esvoassar, com cantares de passarinhos. Aquele ar que me preenchia o peito e me fazia levantar os pés do chãos sem querer.
Para vir acabar, entre paredes "amarelo entristecido", com agulhas encarnadas nas veias, com barulhos e silêncios perturbadores. A unica hipotese é ocupar de vez este corpo medicalizado, e sobreviver, ou talvez não, e nunca mais voltar ao ninho...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Vestido


Vivia triste, recolhida no seu cantinho de costura, a Alisa.
Cabisbaixa continuava alinhavando, unindo, juntando, “cosendo” um tecido ao outro.
Termina, coloca as mãos nas ancas, empurra-as para a frente, tentando esticar a encurvada coluna, nela encarnada. Dá dois passos curtos, e olha para um vestido a meio fazer. Ali pousado, duas partes do
mesmo tecido, unidas, e sem vida Pensou: Numa mulher, tem vida, cor, e temperatura. E aqui!?


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Jacinto

Jacinto era fácil de se amar.
Mas pouco se interessava por mulheres. Apenas por divindades, esbeltas e quase translúcidas.
Numa primavera cruzou-se com a Brisa fresca do Oeste.
Apetecia-lhe abraçá-la, mas não tinha oportunidade.
Por razões óbvias, á volta deles existiam muitas mas muitas pessoas, ouviam-se conversas paralelas, crianças a espernear e cantares desafinados. Ele não queria que os vissem abraçado a uma Brisa.
Ela era linda, pausada, calma, franca, sorridente, e boa de se amar.
Jacinto queria transmitir-lhe a química, a energia que o levou até ela. Mas Brisa, tinha um anel no dedo anelar esquerdo, e não o podia enferrujar com tentações alheias.Existia cumplicidade entre ambos. A única forma que tinham de se encontrar, era combinar a noite e hora a que se encontrarião em sonhos.